Autoria: Professor Francisco
Nascimento
Na manhã do dia 14 de agosto de 2020 (sexta-feira) foi inaugurada uma placa em uma das pirâmides que integram o Centro Cívico, ao lado do prisma e da pira, alusiva à visita do então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro à cidade de Parnaíba – Piauí, que de fato aconteceu em 2019.
Constava na placa: “visitou Parnaíba nesta
data o líder ungido por Deus, que livrou o Brasil do comunismo e da corrupção”.
Vale ressaltar que no ano em curso o presidente foi convidado oficialmente,
porém não compareceu.
Assim que as imagens da placa começaram a circular nas redes sociais, houve uma onda de críticas, protestos, piadas, e até memes, que ainda continuam. Dessa maneira, a cidade de Parnaíba e o seu prefeito, Francisco de Assis Moraes Souza (Mão Santa) ocuparam novamente um significativo destaque nas mídias locais e nacional.
A postura “negacionista” do mandatário
municipal e as orientações questionáveis em relação à pandemia do corona vírus
ganharam notabilidade em vídeo no qual afirmava que “bastava beber água pois os
germes, no caso os micróbios e o vírus ao serem empurrados para o estômago, aí
o ácido clorídrico mata ele (o vírus), esteriliza ele”.
Um dia após a inauguração houve uma manifestação de protesto, com lançamento de
tinta e logo depois a placa foi removida, não se sabe por quem.
A retirada da placa foi comemorada nas redes
sociais, despertando uma militância raivosa que produziu várias ações de
insultos e ameaças aqueles que são contrários à fixação da polêmica placa, nos
levando a fazer algumas considerações:
1) A placa fixada no Centro Cívico de
Parnaíba por ocasião do aniversário de 176 anos, em si mesma, NÃO representa
Patrimônio Cultural. O patrimônio cultural material de um povo representa um
bem coletivo, uma experiência histórica com valor de registro, valor artístico,
associado à função utilitária, memorialística e simbólica. Não pode ser
considerado patrimônio cultural um produto recente, inserido numa obra
arquitetônica, que deforma sua historicidade, seu sentido das lutas sociais e
políticas, a simbologia do lugar, a imagética e os sentidos – História de
Parnaíba. A fixação da placa como “corpo estranho”, além de desvirtuar o
sentido histórico fere o princípio da verdade histórica, em relação aos
aspectos que serão mencionados a seguir:
2) A autoridade política de maneira
ideológica e panfletária atribuiu ao homenageado a denominação de “ungido por
Deus”. Não há possibilidade do gestor municipal leigo comprovar a unção de um
político, muito menos atribuir à unção ao próprio Deus. Tal impossibilidade
3) No que se refere ao “livramento do Brasil
dos comunistas” trata-se de uma adjetivação inverídica, que também fere o
princípio da verdade histórica, claramente apresentada pela historiografia
brasileira e pela ciência política, o que assume uma concepção anedótica mas
muito perigosa, pueril e ao mesmo tempo desrespeitosa para pesquisadores que se
debruçam para estudar os processos revolucionários
4) Sobre “livrar o Brasil da corrupção”, o que dizer do laranjal do Queiroz? Da distribuição de cargos para os partidos do Centrão, do uso da verba pública da Câmara em Campanha, dos assessores condenados atuando diretamente no Governo? Etc.
O historiador que criticou a fixação e comemorou quando foi retirada a placa –
Prof. Ms. Josenias S. Silva - está completamente correto e cumpre seu dever de
ofício, no que se refere à contribuição para construção da consciência
histórica, não devendo de modo algum se furtar ao seu trabalho como pesquisador
e docente. A fixação da placa além de macular o patrimônio histórico, material,
edificado de Parnaíba, localizado do Centro cívico, possui um conteúdo
incoerente, ideológico e falacioso.
