Cartas do período do
Piauí colonial, fósseis, mapas antigos e vários documentos que contam a
história do Piauí, estavam no Museu Nacional, atingido por um incêndio no
domingo (02). Ana Luiza Meneses, doutora em arqueologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora da Universidade Federal do Piauí
(Ufpi), disse que a tragédia já era esperada e que ainda não é possível saber
se todos os documentos foram completamente destruídos.
Segundo a doutora Ana Luiza, os esforços agora estão
unidos em tentar recuperar o que for possível. Para isso, um movimento nacional
pede que as buscas no Museu Nacional sejam feitas por arqueólogos, em vez de
peritos policiais.
“Querendo
ou não, tem que ser alguém que saiba manusear esse material. Ainda não dá para
dizer o que foi perdido, não temos essa noção porque está tudo fechado. O que
sabemos é que a quantidade de perdas foi enorme”, declarou.
Ela
lembrou dos incidentes ocorridos no Museu da Língua Portuguesa, no Instituto
Butantã e o fechamento do Museu do Ipiranga, destacando que a destruição
no Museu Nacional foi “uma tragédia anunciada”.
“Desde o ano passado isso já
estava anunciado, com os cortes de gastos por essa PEC do Teto. Um país sem
educação é um país sem cultura. Na área arqueológica, havia centenas de peças
em cerâmica e utensílios usados pelos primeiros humanos que povoaram a região.
Havia ainda uma grande coleção de fósseis retirados da Bacia Sedimentar do Rio
Parnaíba”, disse.
Pesquisas
Aline Freitas, palinóloga, executou pesquisas no Museu Nacional e falou sobre o prejuízo aos estudos na área e a importância da preservação.
“Uma lástima, uma grande perda, toda a comunidade científica do Brasil e do mundo está abalada. Todo o acervo entre 20 milhões de peças, exemplares de plantas, bichos, fósseis, rochas. Se formos enquadrar o Piauí nisso, o próprio estado é um mini Museu Nacional e temos que zelar pelo nosso acervo enquanto a gente tem, dada a negligência que a gente tem visto em termos governamentais”.
Ela falou ainda sobre os cortes nos recursos destinados ao Museu e sobre a importância do lugar para suas pesquisas.
“Vejo uma drástica diminuição nesse investimento em relação a pesquisa, cultura e a academia e só posso ficar triste porque a gente vem lutando há décadas. Por exemplo, eu entrei no Museu Nacional para fazer estágio em 2000 e há 11 anos eu me dediquei a pesquisar ali, no meu mestrado e doutorado e há 7 anos eu sou pesquisadora colaboradora. Então é muito triste a gente ver a perda de investimento”.
Fonte: G1 Piauí