Metade dos
feminicídios do Brasil são cometidos por parceiros ou ex-parceiros que não
aceitam o pedido de separação da vítima. A afirmação é da pesquisadora Lourdes
Bandeira, professora do departamento de Sociologia da UnB (Universidade de
Brasília), que tem uma pesquisa em andamento, analisando 2 mil casos de
feminicídios ocorridos entre 2015 e 2018. O levantamento será divulgado em
março de 2019.
“As mulheres
são vistas como propriedade sexual do homem. O assassino sente que tem controle
sobre o corpo dela e não aceita que outro homem possa se apropriar dele”,
afirma Bandeira. “Não significa que todo homem é um feminicida em
potencial, mas esses que matam se sentem autorizados por uma ideia coletiva de
que a mulher pertence ao homem.”
Segundo
Lourdes Bandeira, outras motivações identificadas são ciúme, suspeita de
adultério ou briga quando a vítima quer romper com uma situação de
subordinação. “Todos os casos têm a ver com possessividade e com negar a
condição de autonomia da mulher”, analisa. Em sua pesquisa, a estudiosa
concluiu também que o crime acontece com, no máximo, cinco anos de
relacionamento.
Ainda sobre
a pesquisa, Lourdes Bandeira afirma que uma das conclusões mais surpreendentes
foi perceber a brutalidade com que os feminicídios são feitos. “Vários deles
são cometidos com muitas facadas, 20, 30. Também há decapitação e queima de
corpo”, diz, e completa: “ou então, na presença dos filhos menores. É
chocante.”
A promotora
de Justiça e integrante do Gevid (Grupo de Enfrentamento à Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher) do Ministério Público do Estado de São Paulo,
Fabíola Sucasas, afirma que os casos de feminicídios são marcados também
por episódios anteriores de violência. “Muitas vítimas querem romper a relação
justamente para sair dessa violência, mas acabam sendo mortas.”
Segundo Fabíola Sucasas, a orientação é que, no primeiro episódio de agressão, a mulher procure um centro de atendimento à vítima de violência doméstica. “Notamos que há uma escalada de violência nos casos de feminicídio. Então, às vezes, a agressão pode ser mais do que uma simples ameaça: ela pode estar prestes a ser morta.” No caso de querer se separar, a promotora diz que o serviço de atendimento pode ajudar a mulher a pedir medidas protetivas contra o agressor.
Outra orientação importante é ligar 180, número da Central de Atendimento à Mulher, do governo federal, que dá orientação sobre direitos e serviços públicos disponíveis para vítimas em todo o país.
Fonte: Uol/Universa