Na
mais explícita declaração de um papa contra o conservadorismo religioso em
relação às orientações sexuais, Francisco confortou um homossexual vítima de
abusos por parte de um padre chileno. “O fato de ser gay não interessa. Deus te
fez assim, te ama assim e eu não quero saber. O papa te ama assim. Tem de ser
feliz como é”.
Juan
Carlos Cruz, para quem o papa dirigiu suas palavras, foi uma das vítimas do
padre Fernando Karadima, condenado pelo Vaticano por ter cometido abusos
sexuais no Chile na década de 1980. O escândalo levou ao pedido de
renúncia coletiva dos clérigos chilenos.
Francisco deu um passo mais ousado em relação a sua
evasiva frase de 2013. “Quem sou eu para julgar?”, perguntou na ocasião quando
pressionado a externar sua posição sobre o tema.
A declaração é ainda um outro gesto de desculpas de Francisco após as infelizes declarações durante a sua passagem pelo Chile em janeiro. Na ocasião, o papa definiu como “calúnias” as acusações contra o bispo Juan Barros, que teria encobrido os abusos sexuais praticados por Karadima durante décadas.
A defesa de Barros motivou críticas ao papa. Entre os insatisfeitos estava o cardeal norte-americano Sean O’Malley, nomeado para suceder a Bernard Law na diocese de Boston na sequência dos escândalos de pedofilia naquela cidade. O’Malley acusou Francisco de ter causado “grande dor” às vítimas de abusos sexuais por parte integrantes da Igreja.
Após as reprimendas públicas, o papa se desculpou: “O drama dos abusados é tremendo. O que é que sentem as vítimas? Tenho de pedir-lhes desculpa, porque a palavra ‘prova’ feriu. A minha expressão não foi feliz. Peço desculpa se as feri, sem me aperceber, sem o querer. Dói-me muito”.
Fonte: Carta Capital