“Morro e não
vejo tudo”. “Eu vou morrer neste estado Carlos Morais”.
Quem é da
década de 90 e acompanhava o noticiário piauiense não precisa de explicação
saber quem era o autor das colocações acima.
Tratava-se de Donizette Adalto, jornalista paranaense que residia em Teresina e apresentava um dos programas de maior audiência da televisão piauiense.
Donizetti foi assassinado com sete tiros a queima roupa no dia 19 de setembro de 1998. Ele estava voltando de um comício, quando foi abordado por homens armados, que o amarram e o mataram covardemente.
Vou falar em
primeira pessoa porque serei totalmente imparcial para falar sobre Donizetti.
Eu era um adolescente, tinha acabado de completar meus 18 anos e ainda concluía
o terceiro ano, sem saber ao certo se faria ou não jornalismo.
Mesmo assim assistia praticamente todos os programas apresentados por Donizetti. Chegava da escola e, ao lado de meu pai, acompanhava o ‘Meio Dia 40Graus’, apresentado na antiga TV Timon que hoje é a TV Meio Norte. Papai era um fã dessas tiradas de Donizetti. E é claro que isso influenciou minha admiração.
Lembro de Donizetti chegando com uma mala em alguns de seus programas. Ele dizia que ali estavam vários documentos, papeis com denúncias enviadas ao Tribunal de Conta, Ministério Público, Polícia Federal e outros órgãos de fiscalização. Dizia que “sabia de muita coisa sobre muita gente”, mas que só revelaria no momento oportuno.
Sim, havia um pouco de teatro por parte de Donizetti. Mas quem disse que o programa dele não era de entretenimento?! Se você buscar pelo Google, vai ver vários momentos em que ele levava o jornalístico muito mais para o lado do humor. Mas era isso que o tornava um dos mais assistidos. Já naquele tempo lembro que disputava a audiência com o jornalista Amadeu Campos, que na época comandava um programa semelhante na antiga TV Pioneira, hoje TV Cidade Verde.
Donizetti se tornou bastante popular. Se fosse nos tempos de hoje era uma celebridade dessas que o povo gosta de fazer selfie para postar no Insta. Filiou-se ao PPS e saiu candidato a deputado federal. As pesquisas lhe garantiam uma eleição certa. Mas estava num ambiente que era justamente o que ele mais criticou. O dos “poderosos”. Até hoje não se sabe ao certo o que motivou o assassinato de Donizetti Adalto faltando poucos dias para a eleição.
O acusado foi o advogado e professor universitário Djalma Filho, que na época era deputado estadual e fazia dobradinha com Donizetti: ele para estadual e o jornalista para federal. Djalma, aliás, estava no mesmo carro que foi abordado por Donizetti. Os assassinos foram presos, na época, mas Djalma foi apontado como autor intelectual. Mesmo assim, não foram poucos os comentários de que mais gente estaria envolvida no assassinato de Donizetti. A morte do jornalista interessava a nomes fortes da política, do judiciário, da classe empresarial… de todos os setores mais fortes do estado. Donizetti, aliás, não se mostrava intimidado. Passeava por Teresina em carrões de luxo, de BMW, e frequentava os melhores ambientes. Para completar usou como slogan de campanha a seguinte frase: “Calar, não calo. É pau na máfia”.No dia seguinte à sua morte, o clima de comoção era por toda a cidade. Lembro que estava no ônibus, indo para a escola -acho até que era dia de sábado- e vi que já tinha jornal impresso vendendo sendo vendido com a informação e todos os detalhes sobre a morte de Donizetti. Pois é, naquele tempo não existia portal de notícia… Era o jornal ‘Agora’, que fazia questão de ser bem sensacionalista e cobrava, senão me engano, R$ 0,50 centavos na edição. Comprei um para ler e saber o que tinha acontecido com o jornalista do “morro e não vejo tudo”. Eu lembro de cada detalhe: Do velório lotado no Verdão, das pessoas acompanhando o caixão até o cemitério (sim, ele foi enterrado em Teresina e não na sua terra natal). Acho que foi a partir daí que decidi ser jornalista. Não para ser um novo Donizetti. Mas por perceber que a profissão é encantadora.
COMO ESTÁ O CASO DONIZETTI ADALTO
Por causa da lentidão na Justiça do Piauí até para confirmar quem realmente matou Donizetti Adalto -que ganhou uma estátua em sua memória, localizada no local de sua morte, avenida Marechal Castelo Branco, já bem próximo à Ponte da Primavera- o caso pode prescrever. A sentença da pronúncia envolvendo Djalma Filho foi oficializada somente no dia 19 janeiro de 2000. Isto é, somente quase três anos depois da morte do jornalista. Mesmo assim o processo, que segue a passos de tartaruga no Superior Tribunal de Justiça (STJ), é favorável à prescrição, que deve ocorrer no ano de 2020. Na última vez que ‘andou’, foi em abril deste ano.
O vice-presidente do STJ, ministro Humberto Martins, negou seguimento ao
Recurso Extraordinário interposto por Djalma Filho para que o caso não fosse a
júri popular. O advogado alegou a violação aos princípios do contraditório e da
ampla defesa, do devido processo legal e dos limites da coisa julgada e pedia
que o processo fosse analisado, mais uma vez, pelo Supremo Tribunal Federal
(STF). Abaixo, um vídeo divulgado bastante nas redes sociais que garante ser
uma espécie de previsão da própria morte feita por Donizetti Adalto. Assista:
Fonte: Alisson Paixão – Portal OitoMeia