Um
material inédito pertencente à primeira escritora piauiense, Luiza Amélia de
Queiroz, será publicado em março, pela profa. dra. Algemira de Macêdo
Mendes, com o ex-orientando de Mestrado em Letras, Daniel Castello
Branco Ciarlini, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Trata-se da obra
“Georgina ou os efeitos do amor”, que estava desaparecida há mais de 100 anos.
O livro também trará outros escritos inéditos, publicados pela autora em vida e
outros póstumos, no “Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro”.
A
docente Algemira de Macêdo Mendes, que é formada pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e pós-doutora em Literaturas
Africanas de Língua Portuguesa pela Universidade de Lisboa, em Portugal,
pesquisa há mais de 10 anos escritoras dos séculos XIX e XX. Para ela, a
descoberta resgata mais uma grande obra da literatura piauiense.
O
livro conta com poemas e textos inéditos da escrita da poetisa piauiense Luiza
Amélia de Queiroz (1838-1898). Para a organizadora da obra, Algemira, a
temática liga a poesia ao repositório da memória, ao cunho social e libertário.
“A obra demonstrou a participação feminina numa época em que a atuação da
mulher se restringia ao espaço privado, somando-se a isso, manifestos sobre o
preconceito que essas sofriam na sociedade patriarcal, sociocultural e
geográfico ”, afirma a pesquisadora.
Processo de investigação
As pesquisas tiveram início ainda em 2005, com o doutorado-sanduíche, quando a profa. Algemira viajou até Coimbra, em Portugal, com o apoio de uma bolsa de estudos cedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para investigar documentos sobre autores piauienses.
“Pesquisei em bibliotecas em Coimbra e Porto. Portugal é um país que tem muitos documentos históricos e muitas informações sobre autores brasileiros. Logo em seguida, terminei o doutorado e retornei ao Piauí, fiz projetos para pesquisar as autoras, publicando uma antologia de escritoras piauienses do século XIX à contemporaneidade, juntamente com Marleide Lins e Olivia Candeia, dentre outras publicações”, conta Mendes.
Em
2009, a pesquisadora montou o “Núcleo de Estudos Literários Piauienses
(Nelipi)” na Uespi, junto com professores e alunos, por meio de projetos de
Pibic/Uespi/CNPQ e Universal, para catalogar textos literários de autoras e
autores piauienses. “O protejo me permitiu pesquisar em bibliotecas e arquivos
de outros estados como Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco”, afirma Algemira.
Um dos organizadores da obra, Daniel Castello Branco Ciarlini, descobriu que jornais do estado do Amazonas haviam noticiado sobre Luiza Amélia, e, por meio de uma busca detalhada em sebos e bibliotecas amazonenses, o orientando adquiriu a obra quando cursava o mestrado em Letras, orientado pela professora Algemira. Ele, atualmente, dá prosseguimento às pesquisas sobre a literatura piauiense no doutorado na UFRGS.
No trabalho, a pesquisadora elege o livro como objeto de resgate e afeição para a literatura. “A obra estava perdida porque eu já havia comprovado que ela não existia em nenhum arquivo da Biblioteca Nacional, nem nos estados do Maranhão, Pará e Piauí. Quando conseguirmos encontrá-la no estado do Amazonas. Junto com a reedição desta obra, publicaremos poemas inéditos da escritora”, explica Algemira.
Para constatar o ineditismo dos textos encontrados no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, a docente teve que fazer a comparação com as duas obras já publicadas da autora e verificou-se que os escritos até então eram inéditos, porque não constavam em nenhuma das duas produções de Luiza Amélia. “Acredito que esse resgate venha trazer uma mais valia para as pesquisas no campo literário da historiografia literária piauiense”, justificou Algemira Mendes.
Quem foi Luzia Amélia de Queiroz
Luiza Amélia nasceu em Piracuruca (PI), em 1838, e faleceu em Parnaíba, em 12 de novembro de 1898. Considerada a primeira poetisa piauiense, Luiza recebeu o título de princesa da Poesia Romântica do Piauí. É patrona da cadeira 28 da Academia Piauiense de Letras. Publicou vários poemas em jornais e revistas e também escreveu para o Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, publicado em Portugal.
Suas obras alimentam um espírito perseverante e audacioso na mulher do século XIX. É autora de duas obras: Flores incultas (1875) e Georgina ou efeitos do amor (1893), obra composta por cinco contos, e deixou inédito o livro Pétalas Dispersas, que não foi encontrado até a presente data.
Lançamento
O livro intitulado “Georgina e outros escritos inéditos”, resultado da parceria entre a editora universitária Edufpi, será lançado na segunda quinzena de março, na Livraria Entrelivros. A obra já pode ser encontrada nas livrarias EntreLivros e Anchieta em Teresina. A obra também poderá ser adquirida na secretaria do mestrado de letras da Uespi, no Núcleo de Pós-graduação, campus Torquato Neto.
Leia um pequeno trecho do livro que descreve fisicamente os discursos feministas:
A Mulher
A
mulher que toma a pena
Para
em lira a transformar,
É,
para os falsos sectários,
Um
crime que os faz pasmar!
Transgride
as leis da virtude […]
Fonte: Ccom
